terça-feira, 20 de março de 2012

Capitulo 11 (parte II)



VISÃO ANDREIA


Despedi-me do Rúben animadamente, mas percebi que a ‘’panela de pressão’’ não era o objecto mas sim alguém que não devia estar a gostar de ouvir a nossa conversa…
-Então? – perguntou-me a Mónica.
-Acho que a Inês ouviu a conversa e não ficou muito contente.
-Porque é que achas que ela ouviu?
-Porque o Rúben referiu-se à ‘’panela de pressão que já estava a ferver’’.
-E o vosso código para falar da Inês é a ‘’panela de pressão’’ ? – perguntou ela a rir. Eu dei uma gargalhada.
-Não. Mas só podia ser ela. Estávamos a falar dela e pela voz dele… Para além de que ouvi passos.
-Ah, está bem.
-E olha lá, o que é que te leva a crer que eu tenho um código para falar com o Rúben, de quem quer que seja?
-Porque vocês já se dão tão bem e falam tanto… Podiam ter, não sei.
-Oh, está mas é calada oh abécula! – ri. Ela desfez-se a rir.



VISÃO RÚBEN


Acordei cedo. Já não estava habituado a dormir em outra cama senão a minha. A minha mãe já estava a pé, na cozinha, a preparar o pequeno-almoço.
-Bom dia mãe – cumprimentei-a, dando-lhe um beijo no rosto.
-Já estás a pé filho?
-Já. Senti a falta da minha cama – sorri.
-Está bem – sorriu. – Vai sentar-te que isto está quase pronto.
-Deixa-me ajudar-te – ofereci-me.
-Rúben, não me estragues a minha cozinha! – riu – E tu estás doente filho. Vai lá sentar-te.
-Eu já estou bem mãe.
-Rúben Filipe, se eu sei que tu pioras!...
-A sério mãe. Já estou bem. O teu chá e os teus miminhos fizeram milagres! – sorri.
-Está bem está. Então leva lá o açúcar para a mesa, que é o que falta.
-Está bem.
Fomos para a mesa e tomámos o pequeno-almoço calmamente. Depois ajudei a levantar a mesa e pôr a louça na máquina.
-Bem, eu vou a casa buscar o fato de treino e assim. Vou ligar ao mister a avisar que já vou ao treino. Hoje é só à tarde, tenho tempo.
-Tens a certeza que já estás bem filho?
-Sim mãe, não te preocupes. Eu já estou bem.
-Bem, se tu dizes que sim. Mas já sabes que se precisares de alguma coisa eu estou aqui.
-Eu sei mãe. Eu sei que estás sempre aqui para mim. – sorri.
-Ai, o meu menino já está tão grande…
-Oh mãe, vá lá, sabes que vou estar sempre contigo, então…
-Eu sei, filho, eu sei… Mas, só de pensar que qualquer dia tu e a Inês podem estar casados…
-Ai mãe, não exageres! Até porque as coisas como estão entre mim e a Inês não dão casamento tão cedo, de certeza.
-Ela ainda está em tua casa?
-Não sei. Não sei se ela foi embora, se ficou, não sei. Só espero não chegar a casa e voltar a discutir.
-Tem calma filho.
-Eu tenho, mãe, eu tenho. Bem, eu vou andando. Tenho de ligar ao mister e quero ligar ao Rodrigo para ir ter com ele.
-Está bem filho. Fazes bem. Até logo.
-Até logo mãe – dei-lhe um beijo na testa e abri a porta de entrada. – Adoro-te – sorri-lhe.
-Eu também te adoro meu filho. Até logo.

Enquanto ia para casa liguei ao Rodrigo a avisá-lo que hoje já treinava com o plantel e perguntei-lhe se podia ir ter com ele depois de almoço. Ele disse logo que sim. Quando cheguei a casa, estava um silêncio que já não se ouvia à algum tempo nela. Subi até ao quarto e encontrei a Inês a dormir, de baixo dos lençóis da minha cama, tranquilamente. Parecia perfeita neste estado, mas cada vez lhe encontrava mais defeitos. Não sei se por me sentir cada vez mais afastado dela e por discutirmos tanto ultimamente, ou se… Não sabia a razão, mas cada vez tinha mais a certeza que a Inês por quem eu tinha ficado encantado me mostrava cada vez mais a sua faceta do lado mau. Um lado de que eu não gostava, porque estava a levar a Inês doce e compreensiva que eu conhecera. Deixei-me ficar sentado na beira da cama, a observá-la.
-Rúben – disse a Inês ao acordar e ver-me ali sentado.
-Bom dia.
-Já voltaste.
-Cheguei mesmo agora.
-Hm – sorriu e rodeou o meu pescoço para me beijar. Recuei. – Ouve Inês, nós temos de conversar – disse-lhe.
-Outra vez? Gostas muito das palavras – resmoneou, sem no entanto me largar. Chegou-se para mais junto de mim.
-As coisas têm de ser faladas. E a melhor maneira de esclarecer e resolver as coisas é a conversar.
-E o que é que tu queres esclarecer?
-Quero saber porque é que tens tido estas atitudes.
-Que atitudes?
-Embirrares com tudo, reclamares com tudo e com nada… Já reparaste à quanto tempo é que não conseguimos terminar uma conversa civilizada?
-Eu não estou a ter atitudes nenhumas, Rúben Filipe – falou calmamente. – Tu é que não me tens ligado nenhuma – fez uma cara inocente e depois passou a sua perna esquerda para o meu lado direito, sentando-se em cima das minhas pernas, virada de frente para mim.
-Até posso estar a dar-te menos atenção, mas a culpa não é só minha. Estas discussões só nos têm afastado.
-Então, vamos mimar-nos um ao outro e resolver esse assunto – sorriu, dando-me um beijo. Afastei-a e levantei-me da cama.
-Inês, não é ao fazermos amor que as coisas vão resolver-se. Não é ao dizermos ‘’Pronto, vamos esquecer isto!’’ que as coisas ficam bem. Os erros estão cometidos, as coisas estão ditas e nada as vai apagar. Podemos resolver-nos, desculpar-nos sem ressentimentos, mas não vamos esquecer – calei-me um instante e ela nada disse, pois sabia que eu ainda ia falar. – Eu quero ter o menor número dessas coisas contigo, desses momentos maus e estúpidos, porque foram causados sem a mínima necessidade. E  tu és uma pessoa fantástica, Inês. Pelo menos eras, quando me apaixonei por ti, e eu quero guardar essa Inês, percebes? Quero guardá-la para sempre porque ela é uma pessoa muito importante para mim e vai ser sempre. Agora, será que ela ainda cá está, ou já foi embora e eu nunca mais vou poder tê-la ao meu lado?
-A Inês não se foi embora, o Rúben é que não a procura.
-Ok Inês, ah, nós tivemos uma discussão feia ontem e eu estou cansado demais para ter outra agora. Já percebi que agora não consegues conversar e assim não chegamos a lado nenhum, por isso, quando te sentires capaz para conversarmos e acentarmos de uma vez por todas, avisa-me – disse-lhe, sem conseguir continuar a tentar. Era demais e a minha paciência estava no limite. Vesti o casaco, pus o telemóvel no bolso, agarrei as minhas chaves e o portátil e tirei o saco de treinos, já preparado para o meu regresso aos treinos, do armário. Abri a porta do quarto.
-Onde é que vais? – perguntou ela, agora preocupada, desnecessariamente, pois a parte mais difícil ela tinha ultrapassado na maior calma.
-Ter com o Rodrigo. Hoje vou ao treino e não esperes por mim porque não sei a que horas venho. Nem sei se durmo cá hoje.
-Oh Rúben… - tentou falar, enquanto me seguia a descer as escadas.
-Não Inês, não quero ouvir nada. Estou farto de ouvir e até agora não ouvi uma coisa boa, por isso não fales. Não desperdices tempo porque não vai valer de nada neste momento. Tchau. – fechei a porta de entrada atrás de mim e não me importei com o barulho que fiz ou se a deixei a chorar. Eu tinha vontade de gritar e não gritei por respeito e consideração, coisas que não fizeram nem sombra de presença em todas as palavras que ela me tinha dito. Doía, e dói cada vez mais em cada palavra que saia da sua boca. Eu ainda não tinha crescido o suficiente para me conter e aguentar sem explodir. Mesmo sendo o homem Grande a que me afiguravam, era muito para esse homem.

segunda-feira, 12 de março de 2012

Capitulo 11 (parte I)



VISÃO RÚBEN


Estava com três casacos vestidos e a colher de pau na mão. A lareira estava acessa e a Inês estava no quarto. Ela estava com dores de cabeça por isso foi deitar-se enquanto eu fiquei a fazer o jantar. O meu telemóvel tocou. Era a Andreia.
-Olá linda.
-Olá lindo.
-Então, estás boa?
-Estou. E tu, que vozinha é essa?
-Estou doente.
-Doente? Então porque é que eu estou a ouvir os tachos e panelas tão perto?
-Estou a fazer o jantar. Mas o telemóvel está em alta voz para podermos falar. A Inês está lá em cima.
-A fazer o jantar, Rúben Filipe?! Devias era estar enfiado na cama!
-Iih, mais mães não! Até o Mauro já tentou imitar a nossa mãe! - Não consegui deixar de rir.
-Mas eu estou a falar a sério Rúben. Se a Inês está ai porque é que não é ela que está a fazer o jantar?
-Ela está com dores de cabeça.
-E tu estás doente, posha!
-Oh.
-Oh nada Rúben. Olha, eu vou tratar do que preciso e sexta-feira estou ai. - Ouvi os passos da Inês nas escadas e quando olhei para cima ela estava perto do sofá, à frente da bancada onde eu estava, a olhar para mim super irritada.
-Ah, não, Andreia, não venhas. Não precisas vir. A sério.
-Rúben, alguém tem de cuidar de ti. Que eu saiba, essa é a função dela, não a minha, mas já que ela não a cumpre, eu existo. Sabes que estou sempre aqui para quando precisares.
-Eu sei que estás. Obrigado. Mas, a sério, não venhas. Estou a pedir-te.
-Vou pensar no teu caso.
-Bem, olha, tenho de desligar. A panela de pressão já está a ferver. Depois falamos.
-Ahaha, vê lá como é que deixas a cozinha!
-Está a salvo não te preocupes. - Talvez eu é que não esteja assim tão a salvo.
-Está bem. Então depois falamos. Beijinhos.
-Tchau. - Desliguei a chamada e olhei para a Inês.
-Então, porque é que não deixas-te a tua amiga vir? - perguntou-me amargamente.
-Inês...
-Ah não, espera, essa a minha função, tenho de começar a desempenhá-la melhor, assim ela não vem mesmo!
-Oh Inês...
-Oh Inês nada! - disse ela elevando mais a voz. - Eu não estava aqui porque me está a doer a cabeça, não por incompetência ou por não querer ''desempenhar as minhas funções'' Rúben!
-E eu estou doente caraças! Não posso ser sempre eu a fazer as coisas! - elevei também um pouco a voz.
-Ah agora estás a concordar com ela?!
-Queres saber? Estou! Ela tem razão! Eu não sou de ferro! Mesmo quando estou a ''morrer'' tenho de ser eu a fazer as coisas!
-Que lata! Ela deu-te uma volta tão grande, Rúben! - gritou.
-Diz-me uma coisa, se te está a doer a cabeça, porque é que estás aqui a gritar? - perguntei mais calmamente.
-Porque eu passo-me! Conheceste essa rapariga à tão pouco tempo e ela já mexe assim na tua cabeça!
-Tu passaste e eu não me posso passar? Por amor de Deus, Inês!
-Por amor de Deus?! Eu queria ver se fosse contigo! Se fosse eu a ser injusta contigo, porque um rapazinho que conheci à meia dúzia de dias, que mal conheço, me fez a cabeça!
-Eu não estou a ser injusto contigo! Estou a dizer-te a realidade! E sabes uma coisa? Acho que neste momento sou capaz de conhecê-la melhor a ela do que a ti!
-À quanto tempo é que estás comigo e à quanto tempo é que a conheces?
-À quanto tempo é que deixaste de ser a Iês por quem me apaixonei? - Ela olhou-me meio que ofendida.
-Eu não mudei, tu é que te tornaste muito influenciável.
-Não, eu só estou a abrir um bocado os olhos.
-Sinceramente Rúben...
-Sinceramente nada! Já estou farto desta porcaria! Estou farto das tuas cenas!
-Das minhas cenas?! Oh Rúben!
-Já chega Inês! Acabou! Esta discussão acabou aqui e agora! - Desliguei o fogão e pousei a colher de pau. - O jantar está feito. Se quiseres come, se não quiseres não comas. Eu vou a casa da minha mãe - terminei. Peguei nas chaves, no telemóvel e no casaco que estava no sofá e saí. Ela permaneceu estáctica onde estava, sem dizer nada.

Cheguei à casa da minha mãe e decidi tocar à campainha. Tinha a minha própria chave, mas, apesar de ainda ser hora de jantar, não queria assustá-la. Como estava a demorar um pouco a abrir a porta lá entrei com a minha chave.
-Mãe? - chamei ao entrar.
-Na cozinha! - informou.
-Olá - sorri-lhe, dando-lhe um abraço.
-Rúben, filho, o que é que estás aqui a fazer?
-Achas que ainda arranjas jantar para mim?
-Claro que sim, filho. Mas o que é que se passou? A Inês não ficou lá em casa?
-Ficou mãe, ficou. Só que nós discutimos - respondi, sentando-me num dos bancos que estavam junto à bancada.
-Então porquê?
-Ela ficou com ciúmes da Andy.
-Aquela rapariga que me falaste que conheceste quando foste ter com o David?
-Sim. Ela é a minha melhor amiga mãe. Eu sei que a conheço à pouco tempo, mas ela percebe-me como ninguém mãe. Eu sei que te tenho a ti, mas não é a mesma coisa e eu confio em ti, mas, é diferente.
-Eu sei como é filho, eu percebo-te. Mas a Inês não sabe que ela é a tua melhor amiga?
-Sabe mãe, só que não gostou do que ouviu, que é a verdade, e armou uma cena.
-Mas que verdade filho? - Contei a troca de acusações que tinha trocado com a Inês à minha mãe e ela ficou surpreendida com o que tinha ouvido. - Oh meu filho, vocês não estão a fazer bem um ao outro assim, só a discutir e a fazerem acusações dessas!
-Eu sei mãe, eu sei... E agora, o que é que eu faço?
-Oh filho, - encostou a minha cabeça ao seu peito e abraçou-me. - eu não te sei responder. Não sou eu que tenho essas discussões, e não devo conhecer a Inês tão bem como tu, por isso, o melhor é seguires o teu coração. A resposta pode demorar tempo a chegar, mas pelo menos tens a certeza que é a resposta certa. - Sorri ao ouvir as palavras da minha mãe.
-A Andy também me deu o mesmo conselho.
-Estás a ver? É o que tens de fazer filho. Ele é o teu melhor conselheiro.
-Ah, a minha mãe também! - sorri. Ela sorriu também.
-Bom, vamos pôr a mesa a contar com o teu irmão que ele vem cá ter.
-Está bem, vamos lá! - Levantei-me, enquanto a minha mãe já tinha aberto o armário para tirar os pratos. - E, mãe...
-Diz filho - olhou para mim.
-Obrigado. Amo-te muito mãe.
-Oh meu filho, não tens de agradecer, é do coração. Eu também te amo muito filho - sorriu-me, colocando uma mão na minha cara.
-Vais ser sempre a mulher que sempre amei e sempre vou amar - sorri, dando-lhe um beijo na testa e abraçando-a.
-Ai que o meu filho está tão carente! - riu ela. Eu sorri e depois ajudei-a a pôr a mesa.
-Mãe, posso dormir cá, hoje?
-Claro que podes filho.
-Obrigado - sorri. A campainha tocou.
-Deve ser o teu irmão.
-Eu vou mãe, deixa estar. - voluntariei-me.
-Maninho! Também jantas connosco, hoje? - perguntou o meu irmão.
-Sim, janto.
-Boa, boa! Mas então a Inês foi embora mais cedo?
-Não.
-Não? Então? Ninguém deixa uma rapariga daquelas sozinha em casa para vir jantar com a mãe e o chato do irmão!
-Ahaha, a parte do ''chato do irmão'' tens razão, mas nós discutimos, por isso é que vim para cá.
-Outra vez? Vocês andam a discutir um bocado demais,não?
-Sim, mas é inevitável. Quer dizer, ela não consegue evitar embirrar com tudo.
-Oh, oh mano, será que ela está naquela altura do mês que...
-Não tem nada a ver com isso, Mauro. Ela... ela só já não é a minha Inês...
-Ok...Aah, bem, vamos jantar? A mãe já deve estar à nossa espera.
-Sim, vamos. - saímos da sala de estar para irmos para a cozinha perguntar à nossa mãe se era preciso alguma coisa e depois fomos jantar.